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Master Chef Junior e PL 5069/13: assédio e pedofilia ganham destaque nas redes sociais



O programa MasterChef Junior estreou na Band no dia 20 de Outubro, tendo como participantes crianças de 9 a 13 anos de idade. Como normalmente acontece em qualquer reality show, a nova atração movimentou a internet com comentários, piadas e preferências. Mas para além disso, alguns comentários começaram a chamar atenção por terem cunho sexual direcionado a uma das crianças em especial.


Uma participante de 12 anos chamou atenção de inúmeros internautas que não tiveram constrangimento em postar comentários em tom de assédio. Comentários como “Se tiver consenso é pedofilia?”, “Essa com 14 anos vai virar aquelas secretárias de filme pornô” e “a culpa da pedofilia é dessa molecada gostosa” foram feitos por usuários do Twitter, em sua maioria homens.


Em virtude desse fato, no dia seguinte, o coletivo feminista Think Olga começou a campanha #PrimeiroAssédio na mesma rede social, convidando mulheres e homens a contarem a história do seu primeiro assedio sexual e expondo um problema que é muito frequente na sociedade.

“Eu tinha 7 anos, um cara no bairro se masturbou atrás de um poste vendo eu e minhas vizinhas brincando, nós corremos”.

“Desenvolvi transtornos alimentares, pois pensava que, me livrando do "corpo evoluído" eu teria paz”.

“Com 11 anos, eu estava indo para aula de dança e um homem passou a mão na minha bunda.”

“Um primo. Eu tinha 8 anos. Chegou a desabotoar minhas calças e passar a mão em mim. Me escondi por um dia no banheiro”.

Estes foram quatro dos mais de 29.000 relatos. Isso faz pensar o quanto as mulheres, desde crianças, estão expostas a uma violência que deixam marcas duradouras. Mesmo sendo vítimas, muitas das vezes sentem culpa por não terem reagido como esperavam ou até mesmo sentem vergonha pelo ocorrido.


É importante lembrar que o nosso corpo pode reagir a uma situação de perigo ou ameaça à vida de diversas formas: reação de luta, quando acreditamos que temos recursos para enfrentar o perigo; ou fuga, quando acreditamos que temos poucos recursos para enfrentar o perigo. Além dessas duas reações, que são bem mais conhecidas, também temos outras duas não muito faladas: a paralisia, quando não temos a possibilidade de fugir da ameaça, e o desfalecimento que seria como um “amolecimento” ou “quase desmaio”, que é uma forma de proteção para não sentirmos dor. Todas essas respostas são evolutivas, desenvolvidas para a nossa sobrevivência, e são ativadas sempre que temos uma reação de ansiedade/medo frente a um estímulo que entendemos como perigoso. Sendo assim, o nosso sistema defensivo resolve em segundos qual a melhor estratégia para a nossa sobrevivência.


Desta forma, é muito comum que vítimas de violência sexual, inclusive mulheres e crianças, tenham estas reações de paralisia e fuga decorrentes do intenso medo que sentiram no momento. Principalmente crianças, que são mais vulneráveis, frente a adultos que deveriam lhe proteger e cuidar, mas são os agentes que a assediam.


Por outro lado, enquanto a sociedade está tentando problematizar os abusos sexuais que calam muitas mulheres, a câmara dos deputados aprova o projeto de lei que dificulta o atendimento de mulheres vítimas de violência sexual. A PL 5069/13 torna obrigatório que a vítima faça um boletim de ocorrência e um exame de corpo de delito, para só depois, ser atendida em uma unidade de saúde. Contudo, a maioria das mulheres que sofreram algum abuso estão muito feridas e abaladas psicologicamente para abrir um boletim de ocorrência naquele momento. Além disso, muitas não dão queixa na delegacia mesmo posteriormente, por, dentre outras razões, terem medo do agressor, que pode ser uma pessoa próxima ou da família. Atualmente a palavra da vítima é a sua principal prova, considerando que uma mulher vítima de violência sexual encontra-se fragilizada e não deveria ser obrigada a provar que não está mentindo para receber o tratamento adequado.


Fica claro que temas como assédio sexual contra crianças e adolescentes e o tratamento dispensado a estas vítimas são de extrema importância quando consideramos os dados sobre estes crimes. Somente no ano de 2013, foram registados doze estupros por dia no Rio de Janeiro. Além disso, segundo o Mapa da Violência de 2012, o SUS recebeu 10.425 atendimentos de crianças e adolescentes em razão de abuso sexual. Entre essas vítimas, mais de 83% eram meninas com idades que variavam entre menos de 1 ano e até 19 anos.


Tendo em vista os dados estatísticos, os relatos obtidos através da campanha do Think Olga e todo o sofrimento que este trauma pode causar, é inadmissível que a violência sexual seja vista como algo menor ou sem importância. Ao contrário, é importante que a dimensão deste problema seja reconhecido e que sociedade se empenhe para facilitar o acesso dessas vítimas aos cuidados adequados.

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