"Unbreakable Kimmy Schmidt": sintomas de TEPT retratados de maneira descontraída
- tepteviolenciaurba
- 27 de out. de 2015
- 3 min de leitura

Em março de 2015, foi lançado no Netflix a série original, "Unbreakable Kimmy Schmidt". O enredo gira em torno de Kimmy Schmidt, uma mulher que foi sequestrada ainda na adolescência por um líder de um culto apocalíptico que a manteve junto com outras três mulheres presas e isoladas, com a justificativa de que o mundo havia acabado. Após 15 anos de cárcere, as mulheres são finalmente resgatadas e Kimmy resolve recomeçar uma vida em Nova York. Entretanto, após passar por um trauma como esse, tentar recomeçar e levar uma vida normal será mais difícil que ela pensava.
Além das dificuldades de adaptação aos hábitos e costumes de uma cidade grande como Nova York, Kimmy também passa a apresentar alguns sintomas característicos do Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT). Isso porque ela passou por um trauma, que é caracterizado pela vivência, testemunha ou confronto de um ou mais eventos que envolvam morte ou grave ferimento, reais ou ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou de outros.
Primeiramente, o evento traumático é revivido de várias formas, por exemplo, através de recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas do evento que aparecem em forma de imagens e pensamentos, mesmo contra a própria vontade de Kimmy. Além disso, ela tem sonhos aflitivos e recorrentes com o evento, como, por exemplo, quando ela sonha que é uma princesa que está se divertindo com seu príncipe encantado e, de repente, se vê presa novamente no lugar onde ficou presa por 15 anos, o que causa muito sofrimento, pavor, desespero, fazendo com que ela acorde gritando. Nesse momento, seu companheiro de apartamento aconselha que ela procure ajuda pois isso pode ser prejudicial a sua saúde, mas ela se recusa.
Os sintomas de esquiva persistente de estímulos relacionados ao trauma também estão presentes. A personagem faz esforço para evitar ter conversas associadas ao trauma e também evita pessoas que ativem essas recordações traumáticas. Um exemplo disso pode ser percebido quando Kimmy recebe a ligação de uma das mulheres que ficou presa junto com ela dizendo que gostaria de visitá-la, e desconversa, pois não quer encontrá-la, e ao desligar o telefone diz que não precisa conversar sobre isso. Outro exemplo, é quando o padrasto e a meia irmã vão visitá-la em Nova York, e ela diz que não os quer em sua vida, pois eles só a fazem lembrar do trauma, que é algo que ela quer esquecer.
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Outro importante sintoma de TEPT que a personagem apresenta, e pode ser percebido ao longo de diversos episódios, é um sofrimento psicológico intenso quando exposta a indícios que lembram algum aspecto do trauma. Um exemplo disso, pode ser percebido quando Kimmy é intimada a depor contra o homem que a manteve presa e fica desesperada, afinal, ela não quer encontrar com ele novamente e sofre só de pensar nessa possibilidade. A personagem também apresenta reatividade fisiológica quando exposta a indícios que lembram algum aspecto do evento traumático. Por exemplo, vendo uma propaganda de TV que a lembrou o abrigo em que foi mantida em cativeiro, a mesma começou a gritar e se debater.
Existem também alguns sintomas que são indicativos de excitabilidade aumentada, por exemplo, hipervigilância, dificuldade de concentração e dificuldade em conciliar ou manter o sono. No caso de Kimmy, o último destes está presente, visto que ela afirma nem consegue dormir a noite.
Para tentar lidar com o sofrimento psicológico, Kimmy tem algumas estratégias de enfrentamento. A primeira delas é acreditar que uma pessoa pode suportar qualquer coisa por dez segundos, e depois disso é só começar a recontar. Dessa forma ela enfrentava seus problemas enquanto estava presa e também enfrenta-os em sua nova vida. A outra consiste em, dar pulinhos com os braços pra cima e repetir para si mesma " não estou aqui de verdade", uma forma de evitação que funciona como uma tentaiva de evitar entrar em contato com fatores estressantes. Utilizar estratégias de enfrentamento é muito comum para adaptação às situações adversas, bem como para lidar com situações estressantes. Geralmente, envolvem a percepção do indivíduo, que na maioria das vezes percebe a situação como sobrecarga, ou que excedem a sua capacidade.
Apesar dessas estratégias utilizadas pela personagem ajudarem a amenizar seus sintomas momentaneamente, essas não são a melhor forma de tratamento a longo prazo. Portanto, se assim como Kimmy você passou por um trauma, procure ajuda de um profissional especializado. Oferecemos tratamento gratuito no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, localizado na Avenida Venceslau Brás, 71 – Fundos – Botafogo. Para marcação de consulta, o telefone é 996564020 / 39385538 / 37835538 ou através do email: tepteviolenciaurbana@gmail.com (deixe nome completo e telefone).

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