Trauma, resiliência e o impacto da violência urbana na saúde mental
- tepteviolenciaurba
- 20 de out. de 2015
- 3 min de leitura

Eventos traumáticos relacionados à violência urbana são extremamente comuns em nosso país. No estudo intitulado “The Impact of Epidemic Violence on the Prevalence of Psychiatric Disorders in Sao Paulo and Rio de Janeiro, Brazil”, que relata a relação entre eventos traumáticos e prevalência de transtornos mentais em São Paulo e no Rio de Janeiro, os autores constataram que 90% dos participantes da pesquisa já passaram por eventos traumáticos ao longo de suas vidas. E a prevalência de transtornos mentais é de 44% em São Paulo e 42,1% no Rio de Janeiro.
Sabemos que os eventos traumáticos, principalmente aqueles relacionados à violência urbana, são extremamente comuns nestes estados. Os autores dividiram os eventos traumáticos em três grupos: violência envolvendo ataque, que inclui trauma pessoal e que envolve diretamente violência interpessoal; lesão ou eventos chocantes, que inclui outros tipos de experiências traumáticas pessoais diretas; e morte súbita ou lesão corporal de uma pessoa próxima de risco de vida). Esses eventos não tem público-alvo específico e vemos todos os dias nos meios de comunicação que ocorrem em qualquer lugar, dia e horário. Além da possibilidade de danos físicos, podem acarretar graves consequências para a saúde mental da vítima.
No dia 29 de setembro de 2015, ocorreu um evento potencialmente traumático no campus da UFRJ, no Fundão. Um aluno sofreu um assalto e levou um tiro no pé por dois criminosos que levaram seus pertences -https://www.facebook.com/sbtriooficial/videos/vb.323458497763139/783394475102870/?type=2&theater.
Fisicamente, o aluno está bem. Mas e psicologicamente? O que as pessoas que passam por situações traumáticas desse tipo podem desenvolver? Muitas pessoas podem desenvolver diversos transtornos mentais: Transtornos de ansiedade, de humor ou relacionados a trauma e estressores, entre outros. Nesta última categoria, encontra-se o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que está diretamente ligado aos eventos traumáticos que passamos durante nossa vida. Vale lembrar que o TEPT pertencia à categoria dos transtornos de ansiedade. Mas no DSM V foi criada uma nova categoria para os transtornos relacionados a trauma e estressores. Para ser considerado TEPT, os sintomas precisam persistir por, no mínimo, 4 semanas. Caso contrário, trata-se de Transtorno de Estresse Agudo (TEA).
Entretanto, felizmente, há aquelas pessoas que passam por um evento traumático e não desenvolvem nenhum transtorno. Os estudos apontam que a maior parte das pessoas desenvolvem uma trajetória resiliente após um evento traumático. Também por isso Bonanno, um grande pesquisador na área de reiliência, considera o termo “evento traumático” um equívoco. Bonanno diz que o termo correto seria “evento potencialmente traumático”, já que um mesmo evento pode ser traumático para uma pessoa e não pra outra.
Após um evento potencialmente traumático as pessoas podem vivenciar alguns sintomas de TEPT por um tempo, que remitem após algumas semanas, porém nem todas irão desenvolver o transtorno. Essa diferença pode ser apontada, dentre outros fatores pela capacidade de resiliência.
A resiliência, que é a resposta mais comum após um trauma potencial, pode ser definida como a adaptação positiva após ameaças significativas à integridade física e pessoal; um processo dinâmico que leva à adaptação positiva diante de uma adversidade e que envolve a interação entre processos sociais e intrapsíquicos de risco e proteção.
Mesmo que uma pequena parcela da população desenvolva algum tipo de transtorno após um trauma, geralmente, esses transtornos são altamente crônicos e incapacitantes, comprometendo seriamente a qualidade de vida de seus portadores. Por isso a necessidade de estudarmos e aprimorarmos cada vez mais nossas técnicas de tratamento e prevenção.
A resiliência bem como os mecanismos e fatores que fazem com que uma trajetória resiliente seja observada tem sido amplamente estudados. Entretanto, ainda há necessidade de mais estudos na área, principalmente estudos com melhor qualidade metodológica. O entendimento desses processos pode nos levar à melhoria da qualidade das intervenções bem como abrir caminho para programas de promoção de resiliência eficazes e que tenham real impacto na saúde mental dos participantes.
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