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O impacto da atividade física na exposição e recuperação de pacientes com traumas

  • João Pedro de Aquino
  • 18 de ago. de 2015
  • 3 min de leitura

Embora seja intuitivo pensar o esporte como uma atividade que envolve apenas o físico, ele também envolve diretamente a saúde mental e emocional. A atividade física é capaz de proporcionar bem estar, beneficiar a auto-estima e possibilitar a formação de laços sociais. Porém, envolve também alguns riscos. Atividades físicas em geral podem acarretar em lesões. Tais lesões são um risco para atletas de qualquer nível, mas, no nível profissional, no qual se exige maior desempenho físico, os acidentes tendem a ser mais graves ou a ter implicações mais severas. Além disso, há também, a expectativa de que o atleta retorne às suas atividades mantendo o nível anterior à lesão. Quando sérias, lesões podem ter consequências não somente físicas, mas também no bem estar emocional do atleta.

Mesmo em casos nos quais não é o próprio indivíduo que sofre o acidente é possível que haja algum impacto emocional. Por exemplo, durante uma partida de futebol em 1996, uma colisão acidental entre jogadores deixou o jogador inglês David Busst com um ferimento grave e visualmente impactante. O goleiro dinamarquês Peter Schmeichel, do time adversário, viu o acontecido de perto e imediatamente se afastou cobrindo os olhos com as mãos. Claramente chocado, ele vomitou em seguida. Após o ocorrido, circulou a informação que Schmeichel e outros jogadores tiveram que passar por acompanhamento psicológico para se recuperar do choque, mas o dinamarquês desmentiu ter frequentado terapia em entrevista ao site fourfourtwo.com. O acidente de Busst é considerado um dos piores da história do futebol, e mesmo após várias cirurgias o jogador não teve condições de voltar aos campos.

No caso mais recente da fratura da perna do lutador de Artes Marciais Mistas (MMA, na sigla em inglês) Anderson Silva, o atleta relatou alguns sintomas que podem ser associados ao TEPT. Em entrevista ao Fantástico, Silva descreveu uma revivescência do trauma quando disse que constantemente revisita mentalmente o momento da luta no qual se machucou. Também admitiu que durante treinos não chutava com aquela perna por medo, ainda que soubesse que já estava completamente recuperado. Silva passou por terapia psicológica para ajudar na recuperação emocional do trauma. Ele voltou ao esporte no começo de 2015 com uma vitória sobre Nick Diaz, porém falhou um teste anti-doping e o resultado da luta foi anulado.

Apesar do risco de lesões, o esporte também pode ser parte importante na recuperação de pessoas com problemas psicológicos. Todd Vance, um veterano de guerra que já teve um diagnóstico de TEPT, dirige em San Diego, na Califórnia, uma academia de MMA sem fins lucrativos chamada P.O.W., que recebe outros veteranos que enfrentam problemas emocionais devido às experiências em guerra. San Diego é a cidade americana com a maior concentração de veteranos de guerra em situação de rua e, segundo Vance, é mais fácil para eles dizer que vão a um treino de MMA do que a uma sessão de terapia em grupo, o que facilita a procura dos veteranos e a persistência na atividade, criando uma comunidade de “confiança, força e vulnerabilidade ao mesmo tempo”, nas palavras do treinador.

Uma das maiores dificuldades dos veteranos de guerra é conseguir se reabilitar a vida civil. Por se sentirem deslocados, acabam se isolando em casa, frequentemente sofrendo de depressão e se auto medicando. “É isso que o que tentamos prevenir”, diz Vance. Um dos alunos, Jordan Meyers, afirma que na academia conseguiu sentir de novo que fazia parte de algo e que tinha alguém para apoiá-lo. Os alunos se envolvem e se abrem uns com os outros, ao mesmo tempo em que trabalham juntos em direção ao desenvolvimento físico e emocional. Para o treinador, não é ele que funciona como uma muleta, são seus estudantes que estão conseguindo encontrar a própria força.

O Veteran Affairs, departamento que lida com veteranos dos Estados Unidos, ainda não reconhece formalmente o MMA como uma terapia alternativa para o TEPT em militares, mas o P.O.W. continua crescendo e tem planos de se expandir para além de San Diego. Todd Vance está atualmente planejando um estudo clínico sobre os efeitos positivos de seu programa, e acredita que, se for reconhecido pelo VA, estará mais próximo de ter um programa em nível nacional e não dependente de farmacêuticos para apoiar soldados que voltam para casa.


 
 
 

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