Como a arte-terapia pode ajudar no tratamento do TEPT?
- tepteviolenciaurba
- 12 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
A prevalência do TEPT, assim como os tipos de eventos que disparam o transtorno, não são homogêneos pelo mundo, e, um dos fatores que contribuem para isso é a geopolítica. Em nosso país, o estresse pós-traumático é, quase sempre, relacionado à violência urbana (assaltos, sequestros, estupros etc), enquanto nos EUA, é muito mais relacionado à guerra. De acordo com dados do Departamento de Defesa dos EUA, desde que o país entrou nas guerras do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003), cerca de 2,5 milhões de soldados participaram de missões em território afegão ou iraquiano, dos quais, um terço participou de mais de uma missão, muitos passando por mais de três. Destes milhões de soldados, pelo menos 20% desenvolveram TEPT e/ou depressão maior, segundo estudos da RAND Corporation. O número já assusta o suficiente sem termos de adicionar as guerras do Vietnã, da Coréia, do Golfo e a segunda guerra mundial à conta. Brian Paulus é, além de veterano da guerra do Afeganistão, uma luz de esperança para muitos outros. “Quando voltei para casa, fiz três cirurgias no ombro, estava tomando uma tonelada de medicações e ficava sentado em casa fazendo nada... Estava na pior e percebi que tinha de fazer algo”, diz Brian. “Quando você é mandado para missões diariamente, isso significa algo, mas, quando voltei, não havia nada, nenhum conteúdo, nenhum propósito para o que eu estava fazendo. Começar a ONG realmente me ajudou a encontrar meu propósito novamente.”.

A ONG mencionada é a “The Art of War” (“A Arte da Guerra”; uma brincadeira com o nome do livro de Sun Tzu), situada em Woodinville, que surgiu após Brian e um amigo terem convidado alguns amigos, também veteranos, à loja de soldagens de Brian, para que confeccionassem alguns presentes e bugigangas. Disseram eles que a experiência os ajudou muito a melhorar e a superar suas experiências aversivas vividas em território de guerra. Atualmente, os veteranos fazem esculturas, desenhos, pinturas e coisas com soldagem na ONG. É muito reconfortante estar com esses caras” diz Brian. “É difícil falar com um terapeuta, eu pessoalmente acho muito difícil falar com alguém que nunca esteve por lá. Quando a situação é de um monte de caras em uma loja – e você pode chamar isso do que quiser, desde “fazer um monte de coisas inúteis” até “terapia”, tanto faz — o importante é que te faz esquecer toda merda pela qual você passou”. O tratamento mais comum para o TEPT na Veteran Affairs é o da psicoterapia, sendo o tratamento com mais evidências de eficácia a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Entretanto, é estimado que cerca de 30% dos pacientes não se beneficiam deste tratamento.
Apesar do trabalho de Brian ser excelente e benéfico para seus colegas, seu método não os ajuda a extinguir os sintomas do TEPT. Eles estão se distraindo e encontrando "um novo sentido", isso é terapêutico mas não combate o TEPT na sua "essência". Ao estarem evitando pensar e falar sobre suas memórias traumáticas, estas nunca deixarão de ser extremamente dolorosas e incapacitantes. Se os veteranos não enfrentarem suas memórias, nunca farão as pazes com elas.
Mas, por sorte, Brian não está sozinho nessa guerra. O tratamento para veteranos utilizando técnicas diversas de arte-terapia, como música, teatro e dança, é bem difundido nos EUA, principalmente no leste, onde fica a Bloom Counseling, instituição liderada pela terapeuta Rebeca Bloom: “A habilidade das pessoas de se expressar verbalmente é desligada ao processar o trauma, então fazer imagens e brincadeiras são maneiras mais fáceis de se expressar”, diz a terapeuta: “Nós processamos o trauma visualmente, pense sobre algo traumático que aconteceu com você, provavelmente sua memória é muito mais visual, ao contrário de ser expressável através de palavras”. Trabalhando desta forma, a terapeuta ajuda os veteranos a se livrarem do TEPT, fazendo-os resignificar suas memórias, antes impossíveis de se lidar.

Amber Corcoran, sargento da aeronáutica que desenvolveu TEPT, começou seu tratamento em uma instituição da Veteran Affairs colorindo livrinhos dos Vingadores, passando depois para mandalas: “Minha mente ficava vazia enquanto eu coloria, qualquer ansiedade e ruminações de pensamentos que eu tinha antes de me sentar diminuíam enquanto eu escolhia as cores para meu projeto — é calmante e me enche de paz me perder no ritmo do colorir. Sempre que eu tenho um pesadelo, ou minha ansiedade volta e eu não consigo sair desse estado ruim, começo a trabalhar com as minhas mãos de maneira criativa para fazer algo bonito de onde estou. Eu comecei a fazer crochê também e fiz algumas pequenas peças contendo memórias de experiências passadas, que eram dolorosas, embutidas nelas.”, diz ela, “Eu não somente faço algo novo, como também tenho o sentimento de orgulho por ter criado algo, tenho a chance de limpar a cabeça e me prender minha atenção criando algo bonito a partir do lugar sombrio em que me encontro.”.
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