Memória e psicopatologias
- tepteviolenciaurba
- 30 de jun. de 2015
- 2 min de leitura
A memória saudosista pode ser a fonte de muitas horas agradáveis, seja
compartilhando-as, seja através de recordações prazerosas ou reflexivas que façamos
solitariamente. Dentre os muitos modos de lembrar o passado nem todos são agradáveis
ou benéficos: infelizmente existem lembranças que podem assombrar nosso dia a dia,
que intensificam e prolongam angustias, ansiedades e mesmo psicopatologias, destas
desejo apresentar a memória intrusiva e a ruminação.
Intrusões ou memórias intrusivas são recordações involuntárias e espontâneas
relacionadas a eventos enquanto a ruminação se caracteriza por ser um pensamento
circular improdutivo sobre o evento e/ou suas conseqüências.
Ressalto que qualquer pessoa que vivencie uma situação emocionalmente,
impactante ou constrangedora poderá engajar em pensamentos repetitivos sobre o
evento, sobre si mesmo e sobre suas emoções, durante alguns momentos. Entretanto, ao
perdurar neste engajamento, as pessoas percebem os pensamentos se tornaram
negativos, recorrentes e intermináveis, tornando-se verdadeiros impasses angustiantes.
Assim, a ruminação passa a ser indesejável e prejudicial.
Memórias intrusivas geralmente ocorrem de 1 a 5 vezes ao dia na vida cotidiana.
Esta frequência é inferior do que a de pensamentos deliberados, ou seja, de ruminação.
No entanto, as intrusões podem dar origem a afetos positivos, bem como negativos.
Intrusões e ruminações psicopatológicas podem ser vistas como um conjunto de
intrusões diárias comuns. Neste caso, as memórias intrusivas, bem como os
pensamentos ruminativos, podem estar presentes em diversos transtornos psicológicos,
tais como: depressão, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), do transtorno de
estresse pós-traumático (TEPT), transtorno obsessivo compulssivo (TOC), entre outros.
Na depressão, os indivíduos são atormentados por ruminação frequente sobre
erros passados, injustiças e falhas de caráter.
Pessoas com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) se envolvem com
pensamentos ruminativos de catastrofização sobre eventos que podem ocorrer no futuro.
No Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) as memórias intrusivas
caracterizadas pelo retorno incessante de imagens ou pensamentos sobre o evento
traumático são muitas vezes acompanhadas de ruminação sobre por que o evento
aconteceu e/ou sobre a obtenção de vingança.
No transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), há a experiência de repetidas
ocorrências de pensamentos perturbadores ou desconcertantes que, geralmente,
requerem complexos, repetitivos, demorados e desconcertantes rituais de enfrentamento.
Os indivíduos com TOC podem ruminar longamente sobre por que eles se sentem
forçados a realizar o ritual e sobre por que experimentam o pensamento obsessivo.
Por fim, a literatura sobre ruminação aponta que esta é um processo,
predominantemente, mal adaptivo que pode servir para manter ou até mesmo iniciar
sofrimento, transtornos de humor e acentuar distúrbios de personalidade sendo um fator
de vulnerabilidade ao desenvolvimento e manutenção de intrusões e assim contribuindo
na mantenção de sintomas em diversas psicopatologias.
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